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domingo, 21 de novembro de 2010

Experiências.

[VÁRIAS VOZES ON]
"Eu não consigo evitar. Quando vejo, já estou mentindo."


"Se eu pudesse, eu seria 100% hétero."

"Estou tentando a cada dia olhar mais para o rosto das mulheres e menos para os quadris delas."


"E no final do semestre estou atolado de coisas. Isso porque deixo tudo pra depois".


"Eu queria ser bem mais do que minhas roupas dizem. Mas se eu não for assim, quem vai me querer?"


"É isso que as pessoas querem ouvir. Que eu estou pelado e vou me mostrar pra elas. Mesmo que eu nunca faça isso."

"Não estou fofocando, apenas comentando. E se eu não comentar, sobre o que irei conversar?"
[VÁRIAS VOZES OFF]




[VOZ DA EXPERIÊNCIA PLENA ON]
Já ouvi essas e muito mais. Vivemos em nosso quadrado de existência, nos limitando ao que conseguimos ver e sentir. E fazer. Ver AQUELA gata e não me imaginar pegando ela? Loucura. Ver aquela menina vestindo aquela roupa descombinante e não falar mal? Insanidade. Confessar pro seu pai que em vez de ir pro grupo de estudo, foi pra uma boate? Tu tá é doido. Dizer não ao meu grande amigo(a), mesmo que ele(a) esteja errado(a), mesmo que seja além do meu limite? Não, nem a pau.



E vamos nos machucando, nos limitando. Permanecendo em nossa zona de conforto. Sair pra quê? Pra me importar com os outros? Pra mudar minha atitude? Por que eles não podem mudar? Por que sempre tem que ser eu?


É, é assim mesmo. Rachar no espinho do outro dói. Mas só assim para podermos desgastar nossos próprios defeitos e tentarmos viver algo além da concha que nos envolve. Algo maior que nós mesmos. 
[VOZ DA EXPERIÊNCIA PLENA OFF]


[DUILLYS ON]
Sério, galera. Não alcancei nem metade disso ae que a voz falou. Tenho tanto espinho que pareço mais um ouriço-do-mar. Mas estou disposto a sair da concha e mudar. Não vou conseguir sozinho. Alguém se habilita?
[DUILLYS OFF]


domingo, 14 de novembro de 2010

Dependência.

Azul.
Passo um bom tempo olhando para cima, admirando o imenso azul lá em cima. É difícil enxergar, a luz do sol ainda é forte. Olho através dos óculos de proteção, bolhas de ar correm ao meu redor. Estou quase flutuando. É uma ótima sensação.


Mas o tempo acaba. Preciso voltar. Subo bem rápido, ansiando pelo meu vício, minha droga. Ultrapasso o limite. Respiro. Minha pele sente a verdadeira temperatura da água, mas ignoro. Estou aproveitando cada milisegundo, cada instante.


Ar.

Sou viciado em ar. É bem normal, né? Afinal, todos nós somos. Quem não é dependente disso? Não vou nem entrar nas questões bioquímicas, é desnecessário. O oxigênio move nossa vida. 
Mas ao mesmo tempo, é ele que nos envenena, pouco a pouco. Oxida cada célula, cada molécula, matando-nos a cada milisegundo.

É ou não é uma droga? Somos ou não somos dependentes dele?


Já pensaram em viver sem ar? É possível?

Mergulho novamente. A água ao meu redor está morna. Perfeita. Decido deixar meu vício de lado. Viver sem isso. Viver sem ar. Prendo mais a respiração, o corpo começa a reclamar. Os pulmões se retraem, exigindo a droga, o vício. Meus braços não respondem, não sinto minhas pernas. As pálpebras e o nariz começam a arroxear. Sinto minha cabeça girar, não consigo pensar mais em nada, não consigo fazer mais nada. Simplesmente espero que ela chegue, indolor.


Uma lufada fria em meu rosto. Gotas escorrem pela minha testa. Sinto dois braços ao redor de meu corpo e oxigênio, precioso oxigênio em meus pulmões. Quem é esse que me segura?

Olho para frente e não consigo enxergá-lo direito, a vista embaçada. Só sinto emanar dele um sentimento que jamais poderei explicar. Ao sentir sua presença, não lembro de mais nada. Não preciso de mais nada. O antes tão precioso oxigênio se torna apenas um movimento inconsciente, uma contração involuntária. 

Quem é esse que me faz esquecer meus vícios?
Não importa. 
Ele me olha e diz, sem precisar falar nada. "Vá. Você não precisa mais respirar para viver".


Não duvido. Com um salto, mergulho na piscina de minha vida. Sem oxigênio, sem óculos, sem máscaras.




"Porque para Deus, nada é impossível". Lucas 1:37.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Influências.

Uma bolinha vem rolando, apressada, arrastada pela poderosa força G, a inexorável. O terreno é inclinado, o que leva a pequena e frágil bolinha a descer cada vez mais rápida, mergulhando ao indizível desconhecido. Não há como escapar. As paredes apenas a rebatem, sem pará-la, querendo que ela desça, liberando um mar de luz, cores e sons. O barulho é irritante. Nossa amiga bolinha mal agüenta mais rolar de um lado para o outro.  Até que, numa curva mal planejada, ela acaba indo na direção do Algo Escuro Setentrional. "É o meu fim", pensa a bolinha, "mas será um alívio, eu não agüento mais essa vida de bates e rebates".  Fecha os olhos e espera o soar da trombeta final.

Espera o alívio. Sente uma pancada, como se estivesse subindo, subindo cada vez mais. Abre os olhos. Não foi o fim. Ele, o Magnífico de todas as Eras, em seu último esforço de vida, a rebateu de volta. Por um momento, sentiu-se triste por voltar à mesma vida de sofrimentos, batidas e rebatidas. Mas por consideração ao esforço final dele, pensou melhor. "Viverei estas rebatidas como nunca vivi, farei o amor dele valer a pena, mesmo presa nessa caixa de vidro". E, com essas palavras, a bolinha vai contra a inexorável G, contra as paredes, contra todo o previsível, com a esperança renovada e um sorriso de alegria e paz no rosto.



Do lado de fora, um rapaz, com seus 16 anos, pensa: "Poxa, esse joguinho de Pimball é legal, mesmo hein? Essa bolinha parece tanto comigo...".
Com um suspiro, o rapaz sai andando, com esperança renovada e um sorriso de alegria e paz no rosto.


Do lado de fora, o Magnífico de todas as Eras sorri, feliz. Seu filho está indo no caminho certo. "Um dia, meu filho, eu estarei com você. E nem a inexorável, nem qualquer outro poderá lhe fazer algum mal".

Quantas vezes você já foi rebatido hoje? E essa semana? E esse mês? Quantas vezes deu vontade de simplesmente desistir, render-se à inexorável e esperar a trombeta final? Quantas vezes você sentiu a esperança renovar, sorriu de alegria e sentiu a paz que excede todo o entendimento?