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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Lama.



[Já postado no blog "Atividade Parabólica"]

Em um pequeno chalé longe da cidade grande, morava um homem de meia-idade e uma criança. O pequeno, apesar de adotado, era tratado como filho. Ao lado do chalé havia um pomar muito bonito, com árvores frondosas dando um ar vivo e colorido ao local. Além delas havia uma depressão na terra que, nas constantes chuvas, acabava formando um lamaçal raso. Atrás da casa, um pequeno córrego completava o cenário. O pai cuidava diariamente do pomar e sempre incentivava o filho a ajudá-lo. O menino adorava brincar nas sombras das árvores e gostava de subir em seus galhos, cada dia mais altos. 

Um certo dia, no alto de um cajueiro, o menino olhou para o lamaçal. O pai o avisara que brincar no lamaçal era perigoso e que não o queria por lá. A curiosidade, no entanto, falou mais alto. Chovera na noite anterior e a lama parecia nova, convidativa. Passo a passo, o garoto aproximou-se do local proibido com um misto de culpa e desejo. Uns segundos a mais e já estava dentro do lamaçal. Não era ruim. Pelo contrário, era bem divertido. A lama era macia e estava morna. Uma sensação boa espalhou-se pelo corpo do menino, quando ele afundou seu primeiro pé. Era agradável.

Subitamente, um barulho. Seu pai chegara. E agora? Não iria gostar quando visse o filho naquele estado. O menino saiu rapidamente da lama e correu para o córrego onde tomou um rápido banho e limpou-se. Após trocar de roupa, entrou pela porta dos fundos, e correu para seu quarto. Seu pai não poderia vê-lo.


- Filho? - era a voz do pai - onde você está?

- Estou em meu quarto, papai. - Não vem aqui, me dar um abraço?
- Agora não papai, estou ocupado - o garoto tentava esconder seu nervosismo - estou vendo umas coisas interessantes que achei no pomar.
- Venha cá, meu filho. Quero ver como você está. O menino saiu do quarto, receoso. A culpa saltava em seus olhos. Parecia que cada parte do seu ser estava enlameada, mostrando o seu erro. No entanto, o pai apenas o abraçou. Estava tudo bem. O garoto respirou aliviado.
- O que é isso? Isso em sua orelha?
- O quê? - o filho colocou a mão em sua orelha e estacou. A textura recém-conhecida da lama ficou em suas mãos. O líquido morno tinha ficado em sua orelha. A prova do erro. As lágrimas encheram seus olhos. Simplesmente não sabia o que dizer.

“Lava-me completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado. Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim.” Salmos 51:2-4